O monumento histórico mais visitado da Europa, a Catedral de
Notre Dame sofreu um grande incêndio[14.04.19] danificando a ‘torre agulha’ e o
seu teto que caíram destruídos pelo fogo.
A Catedral francesa tem 850 anos e já havia sobrevivido a eventos como as duas grandes guerras mundiais e a Revolução Francesa.
Cathédrale Notre-Dame de Paris ou literalmente em português,
"Catedral de Nossa Senhora de Paris" é uma das mais antigas catedrais
francesas em estilo gótico. Iniciada sua construção no ano de 1163, é dedicada
a Maria, Mãe de Jesus Cristo, situa-se na praça Paris, na pequena ilha Île de
la Cité em Paris, França, rodeada pelas águas do Rio Sena.
Idealizada pelo Bispo Maurice de Sully e iniciada pelo Papa
Alexandre III, durante o reinado do Rei Luis VII, a catedral é de estilo
gótico, característico do século 12.
Palco da Convenção Ateísta
Durante a Revolução Francesa a Catedral de Notre Dame foi palco da convenção ateísta que se instalou
no país.
“Todo culto foi proibido, exceto o da liberdade e do país. O
"bispo constitucional de Paris foi obrigado a desempenhar a parte
principal na farsa mais impudente e escandalosa que já se levou à cena em face
de uma representação nacional. ... Em plena procissão foi ele empurrado a fim
de declarar à Convenção que a religião por ele ensinada durante tantos anos,
era, em todo o sentido, uma peça de artimanha padresca, destituída de
fundamento tanto na História como na verdade sagrada. Negou em termos solenes e
explícitos a existência da Divindade a cujo culto fora consagrado,
dedicando-se, para o futuro, à homenagem da liberdade, igualdade, virtude e
moralidade. Depôs então sobre a mesa os paramentos episcopais, recebendo
fraternal abraço do presidente da Convenção. Vários padres apóstatas seguiram o
exemplo deste prelado". Com blasfema ousadia, que se diria incrível, disse um dos
padres da nova ordem: "Deus, se existis, vingai Vosso nome injuriado. Eu
Vos desafio! Conservais-Vos em silêncio; não ousais fazer uso de Vossos trovões.
Depois que a França renunciou ao culto do Deus vivo, pouco
tempo se passou até descer ela à idolatria degradante, pelo culto da deusa da
Razão, na pessoa de uma mulher dissoluta. E isto na assembléia representativa
da nação, e pelas suas mais altas autoridades civis e legislativas! Diz o
historiador: "Uma das cerimônias deste tempo de loucuras permanece sem
rival pelo absurdo combinado com a impiedade. As portas da convenção foram
abertas de par em par a uma banda de música, seguida dos membros da corporação
municipal, que entraram em solene procissão, cantando um hino de louvor à
liberdade e escoltando, como o objeto de seu futuro culto, uma mulher coberta
com um véu, a quem denominavam a deusa da Razão. Levada à tribuna, tirou-se-lhe
o véu com grande pompa, e foi colocada à direita do presidente, sendo por todos
reconhecida como dançarina de ópera. ... A essa pessoa, como mais apropriada
representante da razão a que adoravam, a Convenção Nacional da França prestou
homenagem pública.
"Essa momice, ímpia e ridícula, entrou em voga; e o
instituir a deusa da Razão foi repetido e imitado, por todo o país, nos lugares
em que os habitantes desejavam mostrar-se à altura da Revolução." Disse o orador que apresentou o culto da Razão:
"Legisladores! O fanatismo foi substituído pela razão. Seus turvos olhos
não poderiam suportar o brilho da luz. Neste dia, imenso público se congregou
sob aquelas abóbadas góticas que, pela primeira vez, fizeram ecoar a verdade.
Ali, os franceses celebraram o único culto verdadeiro - o da Liberdade, o da
Razão. Ali formulamos votos de prosperidade às armas da República. Ali
abandonamos ídolos inanimados para seguir a Razão, esta imagem animada, a
obra-prima da Natureza." - História da Revolução Francesa, de Thiers, vol.
2, págs. 370 e 371.
Ao ser a deusa apresentada à Convenção, o orador tomou-a
pela mão e, voltando-se à assembléia, disse: "Mortais, cessai de tremer
perante os trovões impotentes de um Deus que vossos temores criaram. Não
reconheçais, doravante, outra divindade senão a Razão. Ofereço-vos sua mais
nobre e pura imagem; se haveis de ter ídolos, sacrificai apenas aos que sejam
como este. ... Caí perante o augusto Senado da Liberdade, ó Véu da Razão! ...
"A deusa, depois de ser abraçada pelo presidente, foi
elevada a um carro suntuoso e conduzida, por entre vasta multidão, à catedral
de Notre Dame para tomar o lugar da Divindade. Ali foi ela erguida ao altar-mor
e recebeu a adoração de todos os presentes." - Alison.
Não muito depois, seguiu-se a queima pública da Escritura
Sagrada. Em uma ocasião, "a Sociedade Popular do Museu" entrou no
salão da municipalidade, exclamando: "Vive
La Raison!" e carregando na extremidade de um mastro os restos meio
queimados de vários livros, entre os quais breviários, missais, e o Antigo e
Novo Testamentos, livros que "expiavam em grande fogo", disse o
presidente, "todas as loucuras que tinham feito a raça humana
cometer". - Journal de Paris, 14 de novembro de 1793 (nº 318).
O cristianismo francês nunca mais conseguiu ser
restabelecido em sua força depois deste episódio. O incêndio ocorrido ontem
[14.04.19] apenas consumou a cremação, de uma religião morta a um século.
A
catedral como monumento era um sucesso, mas como lugar de culto, já havia
sucumbido.
O incêndio apenas lhe cremou às cinzas.
O incêndio apenas lhe cremou às cinzas.
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