A HISTORICIDADE DA SEGUNDA TROMBETA

Soldados visigodos atacando estátua do imperador em Roma                                                            

Significado bíblico:

A série profética das Sete Trombetas em Apocalipse 8 e 9 estão relacionadas aos Juízos de Deus. 

As Trombetas eram objetos do Santuário, e tocadas pelos sacerdotes durante a Festa das Trombetas, dez dias antes da penultima festa - O Dia da Expiação - que prefigurava o Juízo dos crentes.

Assim, quando o Apocalipse se utiliza das Trombetas para essa Série de visões, elas indicam os juízos de Deus através da história da igreja.

A igreja cristã através dos séculos sofreu perseguições, os crentes foram torturados e martirizados, e Deus trouxe os juízos sobre os inimigos da igreja.

Segundo e Terceiro séculos

Os inimigos da igreja cristã no segundo e terceiro séculos foram os romanos, e os juízos de Deus vieram sobre o império romano através das incursões e migrações dos povos germânicos, especificamente visigodos e ostrogodos, nos séculos II e III. 

É importante notar desde já que, embora esses grupos já existissem como entidades distintas nesse período, as grandes "invasões" que desestabilizaram o Império Romano ocorreram principalmente a partir do século IV, especialmente após a chegada dos Hunos (c. 375 d.C.). No entanto, os séculos II e III foram marcados pelos primeiros contatos, conflitos e pressões desses povos sobre as fronteiras do Império. 

 Contexto Histórico: Os Povos Germânicos e o Império Romano

 Durante os séculos II e III, o Império Romano estava no seu apogeu territorial (século II, chamado de "Bom Século") mas entrou em uma crise profunda no século III (a "Crise do Terceiro Século", 235-284 d.C.). Nesse período, as fronteiras do Império, especialmente o Rio Danúbio (limes danubiano) e o Rio Reno, estavam sob pressão constante de diversas confederações tribais germânicas.

 Os Godos eram uma dessas confederações, originária do sul da Escandinávia (atual Suécia), que migrou para a região do Mar Báltico e depois para a área a norte do Mar Negro (atual Ucrânia e sul da Rússia). Por volta do século III, eles já estavam divididos em dois grupos principais:

1.  Visigodos (Godos do Oeste): Estabeleceram-se a oeste do rio Dniester.

2.  Ostrogodos (Godos do Leste): Estabeleceram-se a leste do rio Dniester, nas estepes ucranianas.

  1. Os Ostrogodos nos Séculos II e III

Os relatos específicos sobre os Ostrogodos neste período são mais escassos e frequentemente se confundem com a história geral dos Godos. A principal fonte para este período é o historiador romano Ammianus Marcellinus, que escreveu no século IV, mas baseou-se em relatos e tradições mais antigas.

   Migração para o Mar Negro: Entre os séculos II e III, os Godos (incluindo os antepassados dos Ostrogodos) migraram do vale do Vístula (atual Polônia) em direção ao sudeste, estabelecendo-se na região ao norte do Mar Negro. Este movimento fez parte de um deslocamento maior de povos germânicos.

   O Reino Gótico de Oium: A tradição gótica, preservada pelo historiador Jordanes em sua obra Getica (século VI), fala de um reino chamado Oium nas estepes. Embora seja uma fonte tardia e por vezes lendária, ela reflete a memória de um período de expansão e consolidação de poder na região.

   Contato com Outras Culturas: Nesta localização, os Ostrogodos entraram em contato e subjugaram vários povos eslavos e iranianos (como os Sármatas) e estabeleceram relações complexas com o Império Romano, alternando entre o comércio e o saque.

Conclusão para os Ostrogodos: No século III, eles estavam consolidando seu poder na Ucrânia, mas ainda não eram uma ameaça direta e massiva às províncias romanas centrais. Sua grande entrada na história romana ocorreria mais tarde, sob o rei Ermanarico, e principalmente após serem subjugados pelos Hunos por volta de 370 d.C.

 2. Os Visigodos (e os Godos em Geral) nos Séculos II e III

 São os Visigodos (e os Godos antes da divisão clara) que protagonizam os principais eventos deste período contra o Império Romano. Os relatos são mais abundantes.

 A Invasão da Dácia (c. 248-271 d.C.)

 A pressão gótica sobre a província romana da Dácia (atual Romênia) foi intensa durante o século III.

  Ataques Marítimos: Os Godos, utilizando-se de uma frota de navios, começaram a saquear as ricas e vulneráveis cidades da costa do Mar Negro (províncias da Mésia Inferior e Trácia).

   Batalha de Abrito (251 d.C.): Este é um dos eventos mais significativos e um relato histórico concreto. Uma coalizão de Godos, liderada pelo rei Cniva, invadiu a Mésia. O imperador romano Décio (r. 249-251) e seu filho Herênio Etrusco marcharam para enfrentá-los. Na Batalha de Abrito, o exército romano foi aniquilado e ambos os imperadores foram mortos. Foi a primeira vez que um imperador romano morria em combate contra um exército "bárbaro", um evento chocante para o mundo romano.

   Saques na Grécia (c. 267-268 d.C.): Outro relato marcante são os saques góticos profundos nos Bálcãs. Uma enorme frota gótica saqueou cidades como Atenas, Corinto, Esparta e Argos. O famoso Templo de Ártemis em Éfeso (uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo) também foi saqueado e destruído por Godos por volta de 268 d.C.

   Imperador Galiano (r. 253-268): Galiano obteve uma importante vitória sobre os Godos em Naissus (atual Niš, Sérvia) em 268 d.C., contendo temporariamente a ameaça.

   Imperador Aureliano (r. 270-275): Reconhecendo a dificuldade de defender a província da Dácia contra a pressão constante dos Godos e de outros povos, o imperador Aureliano tomou a decisão monumental de evacuar a Dácia por volta de 271 d.C.. As legiões e a administração romana retiraram-se para o sul do Danúbio, abandonando o território aos Godos. Este é um testemunho histórico claro do poder e sucesso da pressão gótica no século III.

 Fontes Históricas Principais para o Período

 1.  Ammianus Marcellinus (Res Gestae): A principal fonte para a história do século IV, mas ele fornece informações cruciais sobre as origens e as primeiras incursões dos Godos no século III. Sua obra é considerada altamente confiável.

2.  Cassius Dio (História Romana): Sua obra cobre a história romana até 229 d.C., fornecendo o pano de fundo dos primeiros contatos.

3.  Historiadores do Baixo Império (como Zósimo): Escritores do século V e VI que compilaram relatos de fontes anteriores, descrevendo as grandes invasões do século III.

4.  Jordanes (Getica): Um historiador gótico do século VI. Sua obra é fundamental para a perspectiva germânica, mas deve ser lida com cuidado, pois está repleta de lendas e foi escrita para glorificar os Godos.

 Resumo Cronológico dos Principais Eventos (Séculos II-III)

 

| Data (Aprox.) | Evento | Povo Envolvido | Consequência |

| c. 238 d.C. | Primeiros grandes saques góticos na província da Mésia. | Godos/Visigodos | Estabelecem a ameaça gótica como uma força séria. |

| 251 d.C. | Batalha de Abrito. Morte do Imperador Décio. | Godos/Visigodos | Trauma para Roma; demonstra a vulnerabilidade militar. |

| c. 257-268 | Grandes incursões navais e saques no Mar Egeu e Grécia. | Godos/Visigodos | Destruição de cidades históricas como Atenas. |

| 268 d.C. | Batalha de Naissus. Vitória do Imperador Galiano. | Romanos vs. Godos | Contém temporariamente a invasão gótica. |

| c. 271 d.C. | Imperador Aureliano abandona a província da Dácia. | Godos/Visigodos | Os Godos estabelecem-se permanentemente em território que foi romano. |

 Enquanto os Ostrogodos estavam se consolidando no Leste Europeu durante os séculos II e III, foram os Visigodos (e a confederação gótica como um todo) que protagonizaram os relatos históricos de invasões mais dramáticos contra o Império Romano. 

Essas incursões não foram migrações massivas para ocupar terras dentro do Império (isso viria depois), mas sim ataques de saque em larga escala que exploraram a instabilidade da "Crise do Terceiro Século" e resultaram na primeira perda territorial permanente de Roma para um povo "bárbaro" – a província da Dácia.

Imagística usada na profecia do texto do Apocalipse

v8 “um grande monte em chamas foi lançado ao mar”

O “mar” no Apocalipse representa as nações (Ap 19:15) do império romano; e as “chamas” podem estar relacionadas aos ataques incendiários dos bárbaros, sobre Roma e as cidades da antiga Europa.

 

“Um terço do mar transformou-se em sangue”

O mundo antigo do primeiro século estava divido em três continentes habitados – Europa, África e Ásia. O terço atingido era a Europa. A imagística do “sangue” indica o grande morticínio provocado na Europa por essas invasões.


v9 “morreu um terço das criaturas do mar”

A expressão “um terço” é uma expressão de juízo no Apocalipse; essa expressão aparece no texto 12 vezes indicando sempre os juízos de Deus.


“foi destruído um terço das embarcações”

Os Godos, utilizando-se de uma frota de navios, começaram a saquear as ricas e vulneráveis cidades da costa do Mar Negro (províncias da Mésia Inferior e Trácia). As embarcações são uma referência a frota marítima dos romanos que eram pegas de assalto.

Conclusão:

O profeta Naum afirma que Yahweh é um Deus "Vingador" (1:4) e a história é uma testemunha disso. Deus trouxe os juízos sobre o aior império de todos os tempos, e não será diferente em nossos dias, na sexta trombeta.


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