VIOLÊNCIA DOS ÚLTIMOS DIAS

“Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis,  pois os homens serão...  desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus...” 1 Timoteo 3:1-4.

Esse texto não é uma profecia que deveria se cumprir, mas uma descrição de um Deus onisciente que alerta para os últimos dias dos humanos neste planeta.
 
Anders Behring Breivik, que confessou ser o autor do massacre que deixou 93 mortos na sexta-feira (22), na Noruega, chegou na manhã desta segunda-feira à corte de Oslo, onde deve se declarar inocente.

Na primeira ação, um carro-bomba explodiu próximo à sede do governo, no centro de Oslo, matando sete pessoas. No segundo ataque, o agressor atirou contra os participantes de uma colônia de férias da juventude do Partido Trabalhista (no poder) na ilha de Utoya, 40 km a oeste da capital, provocando ao menos 86 mortes.

Os dois ataques foram cometidos com apenas duas horas de diferença. A hipótese mais sólida era de que o suspeito tinha ativado o carro-bomba que explodiu na capital para depois seguir em direção à ilha, situada a cerca de 40 quilômetros da capital.

Segundo Geir Lippestad, advogado do acusado, Breivik acredita que seus crimes foram "atrocidades, mas necessários" e que não merece nenhum castigo por eles.

O advogado disse ainda que Breivik quer se declarar "não culpado".

De onde vêm a motivação para essas atrocidades?

Sérgio Rizzo, colunista do Yahoo! Cinema, indica uma das fontes:

“Uma das características do cinema moderno é a ambiguidade, ou a possibilidade de enxergar em cada filme coisas muito distintas. Boa parte do sentido é produzida na cabeça do espectador, que conecta a história contada na tela a tudo o que já viu antes, em uma sala de cinema, na TV e na vida — em casa, na escola, no trabalho, na rua.
Nesse processo, entram em campo as experiências, crenças, preferências, idiossincrasias e preconceitos de cada um. Funciona assim comigo, com você — e também com os psicopatas. Alguns deles têm atribuído a filmes a inspiração ou a motivação para cometer os crimes pelos quais se tornam conhecidos.
O episódio mais recente envolve “Dogville” (2003), do dinamarquês Lars von Trier. Muito lembrado pelo tratamento incomum que dá aos cenários, é o primeiro longa de uma trilogia inacabada sobre os Estados Unidos, que prosseguiu com “Manderlay” (2005). Nicole Kidman interpreta uma mulher em fuga que se esconde em um vilarejo nas montanhas.

Entre os muitos admiradores de “Dogville”, está o norueguês Anders Behring Breivik, o terrorista de extrema direita responsável pelos atentados de 22 de julho. Em sua página no Facebook, agora bloqueada pela polícia, ele relacionava entre seus preferidos o filme de Von Trier, cuja sequência final guarda semelhanças com o massacre na ilha de Utoya.
A proximidade foi notada pelo próprio diretor (clique aqui para ler seus comentários). Por uma coincidência infeliz, Von Trier criou polêmica no Festival de Cannes deste ano ao sugerir ironicamente que “compreendia” Aldolf Hitler na entrevista coletiva com a equipe de“Melancolia”, que entrará em cartaz no Brasil na próxima sexta-feira (5

Quem deseja simplificar o cenário já está com o prato feito: um diretor que teria demonstrado simpatia por ideias de extrema direita veria um de seus principais filmes usado como “receita” por um psicopata com a mesma coloração ideológica. Parece difícil, no entanto, embarcar nessa simplificação — de Von Trier, do filme em questão e de Breivik.
Qualquer episódio de violência na vida real associado a um filme traz sempre à lembrança“Laranja Mecânica” (1971), que está sendo lançado em Blu-ray no 40o. aniversário de seu conturbado lançamento. À época, o diretor Stanley Kubrick decidiu retirar o filme dos cinemas do Reino Unido depois que a justiça o proibiu em algumas regiões, na esteira de crimes que teriam sido inspirados em algumas cenas.

Na ocasião, após receber ameaças anônimas, Kubrick argumentou que o caráter de denúncia do filme não havia sido compreendido. O autor do romance no qual se baseou, Anthony Burgess, o acompanhou na defesa da obra. Anos mais tarde, no entanto, Burgess escreveu um artigo no qual admitia que, se soubesse que uma obra sua teria sido responsável indireta por um ato de violência, nunca a teria escrito.
Desde então, outros episódios célebres têm reaberto periodicamente o debate sobre a suposta capacidade de o cinema, sozinho ou em conjunto com outros fatores, contribuir para a violência na sociedade. Hoje confiado a uma clínica psicológica, John Hinckley Jr. foi o protagonista de uma dessas histórias.
Em 30 de março de 1981, ele atirou no então presidente norte-americano Ronald Reagan e em outros integrantes de sua comitiva. Reagan chegou ao hospital em estado grave, mas se recuperou. Hinckley disse que cometeu o atentado para impressionar a atriz Jodie Foster, em ação semelhante à do personagem de Robert De Niro em “Taxi Driver” (1976), no qual Foster interpreta uma adolescente que se prostitui.

Eric Harris e Dylan Klebold, os dois adolescentes norte-americanos responsáveis pelo massacre da Columbine High School, em 20 de abril de 1999, relacionavam o então recém-lançado“Matrix”, dos irmãos Wachowski, entre seus filmes preferidos, e teriam se inspirado parcialmente nele para cometer os assassinatos.

Meses depois, um episódio polêmico envolvendo cinema e violência foi registrado em São Paulo. Em 3 de novembro de 1999, Mateus da Costa Meira atirou na plateia de um cinema que exibia “Clube da Luta”, de David Fincher, e matou três espectadores. Muito se disse na ocasião sobre a suposta importância do filme — que trata de esquizofrenia — para o assassino, mas a sua defesa alegou que ele havia sido influenciado pelo videogame “Duke Nukem”.

Fonte: Sérgio Rizzo, colunista do Yahoo! Cinema

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